sexta-feira, 21 de novembro de 2008

DIA 8



O primeiro dia da segunda e última semana da academia começa com sol. Ainda bem que ao contrário do que pensei, Barcelona tem um clima bem agradável e até parecido com o Rio. Até a umidade, pela proximidade do mar, mas não chega a ser tão quente. Não sei por que o alarme do meu telefone não tocou, então acordei com uma ligação me dizendo que o ônibus estaria no ponto em cinco minutos. Pouco depois, recebo outra ligação, dessa vez do meu colega Jan, dizendo que o ônibus já estava lá e o pessoal estava entrando. Não queria pegar o metrô então saí correndo (literalmente) do hotel. Felizmente cheguei a tempo e o busão ainda estava lá. Ao encontrar as pessoas, percebi que o humor geral era de menos excitação. A empolgação e animação desenfreadas da primeira semana estava passando e as pessoas estavam mais devagar.


Chegando aos armazéns, após o café, tivemos a primeira palestra do dia com a Srta. Alice Russel. Uma loirinha inglesa muito simpática à quem eu tinha sido apresentado na noite anterior durante a festa no clube Macarena. Alice era uma pessoa interessante e bastante divertida. Falou sobre suas músicas e experiências com bandas em shows e gravações; de como preferia o som acústico e retrô com sabor de soul, funk e gospel dos anos 60 e 70. Logicamente, enquanto falava, ela demostrava suas canções. Era interessante ver que aquela moça pequena tinha um "gogó" potente e mandava ver com interpretações poderosas em canções cheias de clima de louvor. (Nesse caso, louvor não tem um caráter religioso, mas apenas de celebração. Talvez possa ser definido como amor à vida e à música). Muitos "soul claps" e baixos "funky" me fizeram curtir muito essa palestra além de, como já disse, nutri muita simpatia pela inglesa. Coisa rara.






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Mais uma refeição e lá estavam todos novamente na sala de palestras. Sentei ao lado do meu camarada Nino e fui pegar um copo d'água qual não foi minha surpresa ao ver que quando voltei quem estava no sofá era nossa palestrante anterior Alice Russel. Mais uma vez, ela foi muito simpática e me disse para sentar ali mesmo. Conversamos um pouco antes do próximo convidado começar a falar. Esse, diga-se de passagem, era nada menos que Dennis Coffey. "Quem é Dennis Coffey?" Bem, Dennis Coffey é apenas um dos guitarristas que mais tocou e gravou na música soul americana da década de 70. Ele era simplesmente um dos músicos contratados da gravadora Motown durante o período em que mais se produziu música por lá. Além de um pequeno solo de guitarra ali, na hora, o sr. Coffey nos mostrou sua experiência e contou sobre o processo de produção na Motown na época. No qual muitas vezes gravava a base instrumental com o resto da banda sem saber sequer o nome da canção ou quem iria cantar nela. Como músico de estúdio, ele viajou pelos EUA tocando e gravando em vários lugares e projetos; fez grana em Hollywood, gravou um disco solo estilo "guitar band", voltou pra sua cidade, viajou mais, tocou mais até que, um belo dia mostraram pra ele um disco de rap (que ele citou e eu acho que era do Public Enemy, mas eu não tenho certeza). E ele disse: "Ei!! Eu toquei isso aí, mas esses caras não me pagaram!" Aí, nós fomos apresentados ao outro lado do sampler. Foi interessante saber a perspectiva de quem fez uma música e derepente vê um pedaço dela sendo usado por uns caras que ele nunca viu pra fazer uma coisa que ele nem imaginava que existia rimando loucuras sobre ela.  O Sr. Coffey é tem um sotaque americano típico, parece um americano típico, mas mostrou que sabe das coisas e provou que se você faz música, vive a música, se sustenta da música e se mantém fiel no seu propósito você está é mais do que certo.






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 Os pedais do Sr. Coffey



Durante a noite, eu não saí. já tinha tido minha dose de balada e pra mim agora era hora de focar mais ainda nas músicas que tinha começado. Fiquei no estúdio até altas horas trabalhando e voltei pro hotel.




DIA 9




Bem, não é porque não fui pra balada que eu dormi cedo. Saí do estúdio praticamente à mesma hora que sairia das festas e fui dormir bem tarde; o que resultou no mesmo cansaço e sono para acordar às 11 e pegar o ônibus pra academia. A primeira palestra do dia foi com um figura chamado Wolfgang Voight. Segundo as apresentações, ele era um dos pioneiros do techno e minimal na Alemanha desde os anos 90. Não o achei exatamente interessante, mas, como durante a última semana tinha ouvido muito mais techno e afins do que em toda minha vida e além disso, não havia outra coisa pra se fazer durante as palestras, já que os estúdios ficavam fechados enquanto estas estivessem acontecendo. Ele começou a falar sobre a cena de sua cidade, Cologne, comparando com a cena de Berlin até que o "mediador" da palestra o também alemão Akshun Schmidt lhe perguntou sobre "a floresta que fica em volta de Cologne". Daí ele falou sobre seu gosto pela floresta perto de sua cidade e de como ia lá para buscar inspiração para sua música e etc. Durante sua palestra, o Sr. Voight mostrava trechos de faixas que havia feito com seu conceito "mínimo" de mínima instrumentação e variação. A frase "essa é a base e permanece mais ou menos assim por cerca de dez minutos." foi dita mais de uma vez no decorrer das duas horas que ele falou para o grupo. Resultado: dormi mais um bocado.



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"continua assim por mais uns dez minutos"



Almoço e lá vamos nós para a segunda palestra do dia que depois da primeira eu esperava que fosse mais interessante. Essa, no programa constava como o palestrante sendo I.F. Eu não fazia a menor idéia de quem seria essa pessoa e ao chegar na sala tinha um cara de boné, roupa de guerrilheiro que me lembrou muito o Marcelo Yuka de cabelos grisalhos. A 1ª frase que disse em sua palestra me ganhou de cara. O mediador lhe pergunta sobre a música techno e ele diz que o techno pra ele morreu em 96. Já me mostrou que era o contrário do Sr. Voight e ganhou minha simpatia. Tinha uma postura muito tímida e retraída, parecendo pouco à vontade em falar para aquele monte de pessoas. (coisa que disse mais de uma vez enquanto estava lá.) Mostrou sons bem interessantes e diferentes do que eu esperava pelo início da palestra e pela palestra anterior. Ele tocou breakbeats muito pesados e faixas bem "electro" com vocoders e muitos sons digitais. Pra dar a minha impressão de I.F, ele é um punk do fim dos anos 80 que ao invés de guitarrista era dj. Começou a fazer sua própria música, quis continuar "doing it himself", fez um selo e tinha uma loja de discos na qual vendia e distribuía seus discos. Foi uma palestra interessante com uma figura interessante que tinha muita coisa pra contar. Festas em squats, autogestão e disposição pra botar a mão na massa.  Destaque para a letra ininteligível de uma de suas faixas traduzidas pela própria grande figura:"Space Invaders, they will kick your ass, Space Invaders are smoking grass"!!!




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Depois das palestras, subi direto pro estúdio, tinha conversado com um cara da Austrália e íamos fazer um som juntos. Corremos de um lado pro outro, pegando toca-discos, MPC, teclado, ligando, procurando sample, cortando e quando finalmente estávamos começando a achar alguma coisa, chega um dos caras da produção e diz que está na hora de irmos ao concerto da noite. Estranhando o horário (por volta das 20 horas) pergunto que seria e ele me diz que era a apresentação do nosso querido primeiro palestrante, o Sr. Wolfgang Voight. Pergunto se tenho mesmo que ir ele diz que não sou obrigado, que é melhor que todos vão pois essa pode ser sua última apresentação ao vivo. Quando estava quase dizendo que não dava a mínima, resolvi que era melhor não discutir e ir. Desci e fui com todos (e quero dizer literalmente todos, a academia ficou vazia) para o ônibus. Não entendi bem, haviam dois ônibus que foram lotados com todas as pessoas que estavam na academia. e fomos até um parque à uns quarenta minutos de distância. Um lugar muito bonito, que segundo eu soube depois, foi desenhado por Gaudí e realmente é dono de uma arquitetura bem impressionante. Grandioso. Um bar, colunas enormes que sustentavam um mirante enorme, umas 4 telas de plasma bem grandes e cadeiras. Esse era o local da apresentação.




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Depois de alguns  minutos de cocktail, encontro uma moça que me pergunta se sou brasileiro; ao dizer que sim e que era do Rio, ela me diz: "Como não nos conhecemos?". Nos apresentamos e percebo então que eu a conheço, ela é a Samanta, que tocava com o Black Alien nos idos tempos do Totem em Santa Teresa e que agora está casada com o Mario Caldato, a quem fui apresentado logo em seguida. Depois de um rápido "Que legal!!! Lembra disso, lembra daquilo?!", fomos chamados aos lugares pois começaria a apresentação. Luzes apagadas, todos sentados e começa a projeção com algo como árvores digitais, passando para cima e para baixo enquanto um acorde sintético começa a crescer. Repita isso por cerca de sete minutos e é exatamente o que estava rolando. Percebi que não seria um espetáculo realmente interessante e me encostei em uma das pilastras pra tentar dormir; mas por causa da claridade e do som alto não consegui. Mais algum tempo se passou e nada acontecia. Talvez tenha mudado o tom do acorde, se muito, e quem sabe a cor das árvores no telão. 




O SHOW


Óbvio que depois disso eu não agüentei, me levantei e fui procurar o bar que, convenientemente, estava fechado e só reabriria depois do "show". Revoltado, fui olhar o lugar, que por si só era uma atração e notei que eu não era o único entediado com a apresentação. Vários dos participantes, senão todos, estavam nos arredores em qualquer lugar menos assistindo aquilo. Eu ia rodando de grupo em grupo e o comentário era sempre o mesmo: "Mas que p**** é essa???" . Particularmente estava me sentindo lesado, pois na hora em que estava começando a fazer um som, tive que sair para ir pra lá. Depois de rodar e xingar o quanto pude em inglês, percebi que a falta de palavrões na língua saxônica não me permitia expressar toda minha revolta e indignação com o que estava acontecendo. Felizmente nesse momento encontro novamente com Samanta e Mario, igualmente entediados, e na nossa língua mãe, finalmente, consigo compartilhar com eles tudo que estava sentindo com toda a amplitude de xingamentos que nos oferece a Língua Portuguesa. Ao final desse episódio, queria somente frisar que o tal sujeito ainda foi aplaudido e parecia se sentir realmente orgulhoso de seu trabalho. Talvez eu ainda não tenha sensibilidade o bastante para entender o que estava acontecendo. Ainda bem.






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Samanta, Mario C., Dennis Coffey e Russel Elevado curtindo O SHOW




O GRAND FINALE!!!




Levemente desanimado, voltei para a academia. Tinha deixado todo o equipamento ligado na esperança de continuar quando voltasse. Mas o Production Team resolveu fazer o workshop de Logic parte 2 e eu fui aprender um pouco mais sobre o programa. Quando voltei ao estúdio, percebi que meu colega australiano tinha ido dormir. Ainda gravei mais umas coisas, mas sem muita inspiração. Aquele alemão realmente tinha me desanimado.


4 comentários:

  1. eh esse bagulho de minimalista eh coisa de... bom vc eh meu irmao, sabe a ke me refiro, ne? =)

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  2. cara...

    acho q nunca li tanto texto seu
    rsrsrsrsrsrs
    pergunta

    esses videos no teu blog sao seus

    to com um blog tb, so q e meio maluco e so tem texto copiado

    ou seja normal

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  3. hehehehehhe


    agora vc imagina aturar esse bagulho por uma hora e tal....


    =S


    os vídeos eu q to gravando. ou na real tava, pq minha câmera ficou doida... mas ainda tem algumas coisitas más...

    aguarde e confira...


    valeu por conferirem

    abs.

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  4. babão o blog ta bem legal,é uma viagem e tanta ler esse texto,embarquei legal !grande positividade no lance!

    www.mixtape21.com

    abs

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